magauxa

quinta-feira, agosto 21, 2008

Triston de báu

Ao remexer no passado, abri um báu. Aí pus-me a sonhar como tudo é bonito.O báu estava pêrro e tive dificuldades em abrir, mas com muita paciência e ansiedade á mistura,consegui com que aquela parte superior que se destaca no báu fechado se começasse a levitar.
Era pequena, sem grande noção do que já tinha guardado durante estes anos, sem noção de tudo o que tive e tinha esquecido. Criança viváça, traquina e com muito para fazer no meu dia a dia, tinha que ir fazendo uma selecçao do meu divertimento. O báu por fora não era muito grande, de madeira escura até me dava a impressão que estava mal tratado, ao abrir a sua "porta", nesses segundos não conseguia pensar, tal vez pela ansiedade que se encontrava dentro de mim, pois nunca pensei que uma criança com a minha idade se conseguisse sentir desta forma, pensava mesmo que isso era coisa de adultos.As mãos eram pequenas e para isso precisei de usar as duas, pois embora não fosse grande o meu báu, supostamente seriam pequenas eram as minhas mãos. devagar muito devagar abri, o seu estado não ajudava a que se abrisse com a intensidade de ansiedade que me acompanhava nesse momento. Espreito devagar e com os olhos a olhar no seu interior, o meu olhar, bastante descritivo ajudava ainda mais a minha ansiedade, assim tive que fazer mais força até conseguir chegar com a porta do báu a meio. com toda a força que tenho tentei resistir para manter as duas mãos a empurra, mas o meu báu estava cheio. Tao cheio que por momentos fiquei petrificada para tudo o que via e quase que nem acreditava, no topo havia muitas coisas. a luz ia batendo devagar no seu interior que se encontrava escuro e ia enclarecendo conforme a força que eu fazia para a tampa ficar no topo.
Ao conseguir com que toda a luz ficasse incidida para o meu báu, nesse preciso momento concentrei-me naquele momento, naquele báu que era pequeno por fora mas que conseguia ter tantas coisas lá dentro.
Estava cheio e nem sabia por onde começar a olhar, acho mesmo que o meu olhar acompanhava o báu todo sem saber muito bem como o fazia.
Com coragem, mexi e remexi, virei e revirei. tudo o que pegava era fonte de sorriso de pensamento no momento em que o tinha recebido, mas olhava para dentro e via mais qualquer coisa que me deixava ainda mais com um sorriso, uns olhos radiantes. posso mesmo dizer que não sabia se a luz que penetrava pelo báu dentro era da janela pequena onde o báu se encontrava ou se era mesmo dos meus olhos.
Por momentos parei, fiquei sem saber o que já tinha visto, o que já tinha sonhado, o que já tinha revivido, e isto porque dei com os meus olhos esbarrados numa pequena coisa que me fez rir, chorar, baixar a cabeça, fiquei com as mãos todas molhadas e sem reacção, mas...como a ansiedade aqui tinha ficado mais congelada, devagarinho, muito devagarinho, levei as mãos ao meu báu, peguei no que me pôs assim e com muito jeito, afastei tudo o que rodeava ate ficar isolado e sem pisadas de outras coisas, encontrei o meu boneco.
O meu boneco era único, pois seria o formato do meu sonho, um peluche, de pêlo raso e quase do meu tamanho da cara.
Abracei-o, ele tinha um nome muito triste, mas esse já vinha com nome era Triston.
Triston tinha umas orelhas grandes, muito grandes, um corpo comprido mas o seu olhar era na perfeição, desconfio que estava um pouco triste, porque naquele báu não entrava luz e ele tinha ficado triste, com escuridão a mais para o seu futuro. sei que Triston ficou contente quando me viu e quando pego nele ao colo me pediu para nunca mais o abandonar.
Assim fiz Triston que é um boneco com um olhar sempre triste e que nunca se esqueceu do que passou naquele báu, nunca mais me largou. como tinha que tratar de Triston fechei o báu sem ter noção do peso da sua porta, confesso que me esqueci novamente do que tinha revivido com ele aberto mas o Triston precisava tratamentos, pois tinha uma orelha descosida, um cheiro imundo. precisava de mim e tínhamos prometido nunca mais nos largarmos um ao outro.
assim Triston nunca mais perdeu o seu ar triste e desolado mas sei que é o boneco mais feliz do mundo.